sexta-feira, 8 de julho de 2016

Eu tenho experimentado muito fortemente o lugar de mulher negra no Rio de Janeiro, principalmente quando frequento rodas que não tem negrxs, mas se tem a gente é tolerado por uma gente jovem, universitária que frequenta lugares cults/bacaninhas, a dita esquerda festiva que aprendeu no curso de sociologia, história, filosofia, psicologia (...) tudo sobre o processo sócio-politico-histórico dos negrxs, mas não aprendeu nada sobre empatia, a "galerinha legal" que não me aceita, mas me tolera só pra não ser chamado de racista.
Enquanto mulher negra (queria colocar o negra na frente, mas ñ sei pq fica estranho), a princípio hetero, vivo umas experiências que são muito escrotas.
Uma vivência racista diferente daquela que a gente conhece (e pratica diariamente) que vai desde o atravessar pra outra calçada porque o cara (negro) é estranho até o genocídio de negrxs da periferia.
Não estou querendo dizer aqui quem sofre mais racismo - até porque isso não é uma disputa e se fosse eu perdeira fácil - só to dizendo que ele é diferente justamente porque quem é racista comigo, é porque me tolera nos ambientes cult/bacaninhas, de artistas e intelectuais da cidade maravilhosa.
Isso fere muito a auto-estima de uma mulher negra! Ainda mais quando a mulher tá se descobrindo negra como eu to!
Sabe o carinha lindo que ficou olhando enquanto eu tava sambando - a preta sambando (!) - e eu achei que ia rolar alguma coisa? Não rolou! Nenhuma das vezes que a gente se encontrou! Sabe por quê? Porque quando acaba o samba meu corpo, que antes era objeto de desejo (não to falando aqui de ser objetificada - mas de ser interessante pra alguém), agora é o corpo que ele tolera ali do lado dele, que ele rejeita enquanto tá lá beijando a mina branca que fala gratidão e tem o corpo padrão.
Aí o carinha aparentemente legal que aparentemente se interessou por mim, me traz de novo a sensação daquele menino que escroto que eu odiava no colégio pq falava mal do meu cabelo... cor... nariz... de mim...
E tem umas minas também que PQP! Manas meu cabelo não é adereço de carnaval, as vezes eu sinto como se estivesse com uma alegoria na cabeça, parem de falar que ele é lindo seguido de "mas ainda bem que o meu é liso" ou "o bom é que está na moda"! Também parem de achar que eu "tenho sorte porque sou preta e estão vindo vários gringos"...
O mais bizarro é que eu falo enquanto mulher negra, mas que sempre teve privilégios da classe média, que sempre estudou em colégios particulares, que está na segunda graduação pública, que não teve grandes problemas pra arranjar o primeiro emprego, que não tem a pele escura - SIM! ISSO, INFELIZMENTE, AINDA FAZ DIFERENÇA.
Pode parecer mimimi ou que eu to me vitimizando, mas eu to precisando desabafar sobre essa experiência que já se repetiu muitas vezes, porque a cada dia que passa eu vejo o quanto é difícil ser negrx e se afirmar nesse lugar!
Já que ninguém disse que seria facil eu (me) exponho aqui pra dizer que eu vou continuar resistindo, enegrecendo e dessa vez a branquitude de vocês não vai me afogar, antes disso eu engulo todo mundo!

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